Resumo Histórico do 1º CGEO
Comissão da Carta Geral do Brasil
No início do período republicano no Brasil a questão do mapeamento do país foi assunto intensamente discutido pela sociedade, se tornando objeto de atenção de diversas entidades de classes, das comunidades científica e acadêmica e representantes políticos.
Naquela época a Carta do Império do Brasil, organizada em 1875, pela Comissão da Carta Geral, sob a presidência do general Henrique de Beaurepaire Rohan, já não era mais suficiente para atender a sociedade e as necessidades do Exército, que clamavam por um produto mais completo, atualizado e preciso.
Para o Exército em particular, dadas as experiencias de conflitos do passado, era fundamental a existência de informação detalhada sobre o território nacional, pois a formulação de um plano de defesa do país não poderia ser embasada a contento sem cartas topográficas confiáveis e atualizadas.
Essa situação sensibilizou a sociedade e o Ministério da Guerra, provocando a atuação dos principais atores políticos da época, os quais em resposta tomaram a decisão de atender os anseios apresentados suprimindo a carência desses documentos.
Dentro deste contexto, foi criada em 27 de março de 1903, de acordo com o Aviso Ministerial nº 801, a Comissão da Carta Geral do Brasil (CCGB), a qual foi atribuída a missão de realizar um novo mapeamento do país, fundamentado em processos científicos que representavam o estado da arte daquele tempo.
Seguindo a estratégia vigente daquele período foi definido que os trabalhos deveriam ser inicializados sobre o território da conflituosa Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, palco da Revolução Farroupilha, de diversos conflitos com os vizinhos do Prata e de guerras civis entre antagonistas políticos.
Para isso, foi tomado como base o documento técnico elaborado pelo Estado-Maior do Exército (EME) e anteriormente publicado no ano de 1901, intitulado A Carta Geral do Brasil, que continha as informações e procedimentos que conduziram a estratégia de execução dos trabalhos da CCGB.
O documento do EME prescrevia o emprego do modelo de triangulação geodésica, método geodésico clássico, que havia sido adotado anteriormente pela França com bons resultados. No caso do Brasil seria adotada a triangulação geodésica para o levantamento dos Estados do litoral e a determinação de coordenadas geográficas dos pontos fundamentais para a parte central do país, que naquela época ainda se encontrava em sua grande parte despovoada.
Dessa forma, foi definido para o Estado do Rio Grande do Sul que seriam medidos em campo, por meio de observações astronômicas e métodos trigonométricos, os vértices de uma série triângulos geodésicos cobrindo todo o seu território.
A fim de dar início a essa missão, o Ministério da Guerra designou como primeiro Chefe da CCGB o Coronel Francisco de Abreu Lima, nomeado para este cargo pelo Aviso Ministerial nº 884 de 2 abril de 1903. Esse militar foi responsável pelo estabelecimento da primeira sede da Comissão que ocupou o prédio localizado à Rua General Vitorino nº 24, no centro da cidade de Porto Alegre - RS.
Como importante auxiliar desse Chefe, também foi designado, em abril de 1903, para servir na Comissão o então Cap Augusto Tasso Fragoso, que no mês seguinte seria promovido ao posto de Major e que futuramente se tornaria Patrono das organizações militares herdeiras das tradições e missões atribuídas à CCGB.
Com o intuito de executar a missão para qual foi criada, a CCGB definiu que seriam organizados grupos de trabalho divididos de acordo com a atividade que deveriam ser realizadas em campo, as quais consistiam basicamente em reconhecimento e levantamento. Esses grupos, denominados de turma, eram mobilizados de acordo com o planejamento feito em gabinete e conforme com os recursos disponíveis para efetivar as campanhas.
Os primeiros trabalhos da CCGB iniciaram-se ainda em 1903, nas imediações e entorno da cidade de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul. Nessa região os pioneiros da Comissão lançaram-se de morro em morro, atravessaram rios, coxilhas e banhados, abriram picadas e construíram sinais rústicos, a fim de obter pontos que permitissem visadas diretas entre si com o intuito testar seus equipamentos e consolidar as metodologias que seriam empregadas nos trabalhos técnicos.
Data também de 1903 a construção do primeiro sinal no Morro de Sant´Ana situado nas imediações do núcleo urbanizado da capital gaúcha, primeiro marco geodésico implantado pela CCGB e conhecido como Marco Fundamental, em meados de agosto, o qual foi levantado à bussola e podômetro.
Entretanto, coube ao Coronel Feliciano Mendes de Morais, que assumiu a Chefia da Comissão em 29 de janeiro de 1904, a honra de efetivamente realizar as primeiras campanhas de reconhecimento, marcando com isso o início dos trabalhos técnicos.
Em 1904 também foram instalados equipamentos de observação astronômica, cedidos pelo Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, no anexo ao escritório central da sede da CCGB. Esses equipamentos, aliado aos conhecimentos dos Oficiais, permitiram que fossem iniciados trabalhos de determinação da hora local da cidade de Porto Alegre, atividade que naquele ano passou a ser realizada pela Comissão, a fim de suprir essa necessidade da sociedade porto-alegrense.
A terceira turma de reconhecimento, em 1906, teve, entretanto, a distinção de inaugurar o serviço de medições angulares da triangulação de primeira ordem, a qual contou com a participação direta do então Maj Augusto Tasso Fragoso. A cadeia de triângulos dessa campanha teve como ponto de partida a base medida na Barra do Ribeiro e desenvolveu-se em torno de Porto Alegre mediante a medição de sete grandes triângulos que avançavam para oeste até perto de Cachoeira, no estado do Rio Grande do Sul.
A primeira grande base geodésica do Brasil, estabelecida em Santa Vitória do Palmar, no estado do Rio Grande do Sul, foi obtida pela CCGB no ano seguinte, 1907. Essa base, com um comprimento de 20.352,7609m, foi executada com mira invar, considerado o melhor equipamento existente à época, e possibilitou o início aos trabalhos de triangulação geodésica no ao longo do litoral daquele estado.
Em 1918, com o intuito de estabelecer uma rede altimétrica apropriada para os trabalhos de levantamentos, a CCGB instalou um marégrafo na cidade de Torres, no Estado do Rio Grande do Sul. Nesse marégrafo foram realizadas observações entre o período de 1919 a 1920, se tornando posteriormente o primeiro Datum vertical do Brasil, sendo usado como referência para diversos trabalhos de mapeamento subsequentes realizados por outros órgãos e instituições civis.
Em decorrência do irrompimento do Movimento Revolucionário de 1930, integrantes do efetivo da Comissão da Carta Geral do Brasil foram arregimentados em 7 de outubro para formar o 1º Batalhão de Caçadores da Carta Geral do Brasil. Essa unidade militar se deslocou do Rio Grande do Sul para São Paulo em 14 de outubro, a fim de participar das operações militares vislumbradas pelos revolucionários. Em 30 de novembro o batalhão foi rebatizado como 2º Batalhão de Caçadores e retornou a Porto Alegre em 23 de dezembro. Em 31 de dezembro o 2º Batalhão de Caçadores foi dissolvido, após sua efetiva participação nos eventos daquele período da história brasileira.
Cabe ressaltar, que além de realizar as atividades de levantamento e mapeamento, os militares da CCGB também publicaram diversos materiais, dentre os quais se destacam manuais e cadernos técnicos nas áreas de astronomia de campo e geodésia.
Na área de astronomia de campo destacam-se as publicações intituladas “Método de Zinger - longitude por alturas iguais”, e “Método de Sternek - latitude por alturas iguais”. Já na geodésia destacam-se as publicações “Medição de Base com Fio de INVAR”, “Noções Sobre os Mínimos Quadrados e suas Aplicações na Geodésia”, e a “Tabela da Correção do Erro de Volta”.
Destacam-se ainda na geodésia a publicação “Método de Schreiber” empregado nas primeiras medições de triangulação de primeira ordem, descrito de forma pormenorizada em relatório apresentado em 1906 pelo então Maj Augusto Tasso Fragoso, bem como outras obras técnicas do mesmo autor tais como “Determinação da hora por alturas correspondentes de estrelas diversas”, de 1904, e “Determinação de latitude por alturas iguais de duas estrelas (método de Stechert)”, de 1908.
Esses materiais, dada a qualidade técnica com que foram produzidos, acabaram sendo adotados por várias Escolas de Engenharia no Brasil, a fim de serem empregados na formação de engenheiros e geodesistas.
A produtividade da CCGB no período em que atuou, de 1903 a meados do segundo semestre de 1932, foi destacada em todos os seus empreendimentos, mas, sobretudo, notável na triangulação geodésica, pela intensidade e excelência dos trabalhos realizados (Celestino et al, 2010).
O trabalho pioneiro realizado pela CCGB deixou como herança, materializado no terreno, a rede de 1ª ordem no Estado do Rio Grande do Sul, considerada como uma das mais extensas da América do Sul. Essa rede, estabelecida obedecendo aos mais rigorosos fundamentos técnicos e precisão existentes na época, atualmente impressiona a todos pela sua qualidade em termos de acurácia posicional. Sua extensão cobre uma área de mais de 170 mil km2, ou seja, cerca de 2/3 da superfície do Estado.
1ª Divisão de Levantamento
Até 1932 a CCGB e o Serviço Geográfico Militar (SGM) atuavam de forma independente. Em setembro daquele ano, como consequência da reformulação do SGM, que passou a se chamar Serviço Geográfico do Exército (SGE), a Comissão da Carta Geral do Brasil passou a ser denominada 1ª Divisão de Levantamento (1ª DL).
Devido a repercussão no Brasil dos acontecimentos na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, o Serviço Geográfico Militar enviou ao Nordeste Brasileiro mais especificamente para as cidades de Recife-PE, João Pessoa-PB e Natal-RN, o Destacamento Especial do Nordeste, o qual foi constituído em boa parte com militares pertencentes ao efetivo da 1ª DL. Esse Destacamento posteriormente em 1958 deu origem à Comissão Especial de Levantamento do Nordeste, a qual em 1969 viria a ter sua denominação alterada para 3ª Divisão de Levantamento.
Em 1946 foram regulamentadas as atividades da Diretoria do Serviço Geográfico do Exército e recriada, na cidade de Ponta Grossa, no Estado do Paraná, a 2ª Divisão de Levantamento. Nesse processo um efetivo apreciável de militares da 1ª DL foram incorporados ao núcleo inicial que deu origem à 2ª DL. Organização Militar que mais tarde foi transferida para Brasília, no Distrito Federal, e posteriormente transformada no Centro de Cartografia Automatizada do Exército, atual 2º Centro de Geoinformação.
Desde a criação da CCGB até finais da década de 1950 os trabalhos técnicos realizados pela 1ª DL eram caracterizados por levantamentos baseados em triangulações geodésicas. Essa atividade inicialmente envolvia a realização de campanhas de medição em campo nas quais eram feitas observações de ângulos e medições de distâncias sobre os vértices geodésicos implantados no terreno. Informações estas que posteriormente eram empregadas em cálculos para a determinação de coordenadas acuradas, usadas como referência em levantamentos terrestres para obter uma representação cartográfica precisa.
Em abril de 1957, a 1ª DL deixou as antigas instalações da CCGB e passou a ocupar de forma definitiva as instalações da área localizada no Morro de Santa Teresa, em Porto Alegre, local possuidor de maior área e constituído de conjunto predial mais adequado para a realização das atividades de cartografia.
Seguindo a evolução das tecnologias da época, a partir de 1960, a 1ª DL passou também a contar com um núcleo de fotogrametria, ampliando assim a abrangência das atividades técnicas nela realizadas. Esse núcleo possibilitou agilizar a aquisição de feições de terreno por meio do emprego de fotografias aéreas, atividade fundamental do processo de mapeamento topográfico.
Em fins da década de 1970, com o domínio da “plastigravura”, técnica empregada na época para o desenho de cartas topográficas, a 1ª DL já estava capacitada tecnologicamente para executar todas as etapas do mapeamento, com exceção dos voos fotogramétricos e da impressão em processo off-set.
Em 1979, os trabalhos de campo realizados pela 1ª DL na Selva Amazônica, permitiram a constituição do grupo inicial de militares que deram origem à 4ª Divisão de Levantamento na cidade de Manaus, no Estado do Amazonas.
No período de 1978 a 1980, acompanhando os esforços de intensificação do mapeamento sistemático brasileiro impulsionado pelo Plano de Dinamização da Cartografia, foi executado pela 1ª DL o mapeamento sistemático de todo o Estado do Rio Grande do Sul, na escala de 1:50.000, sendo esse ente federado o primeiro a ser completamente mapeado nesta escala. Nesse mesmo período, também foram produzidas cartas dos demais estados da Região Sul do Brasil, grande parte delas também produzidas pela 1ª DL, a qual foi definida pela DSG como Área de Suprimento Cartográfico de responsabilidade da 1ª DL.
Do fim da década de 1980 até 2005, destacam-se os mapeamentos topográficos sistemáticos nas escalas 1:50.000 e 1:25.000, realizados pela 1ª DL no Sul do Brasil, decorrentes de Projetos Institucionais e parcerias com o Estado do Paraná, que permitiram gerar a cartografia de grande parte desse ente federado.
Os Projetos Institucionais que contribuíram para a realização desse trabalho foram o Projeto Fronteira Sul e o Projeto Estabelecimentos de Ensino, ambos de iniciativa do Ministério do Exército.
O Projeto Fronteira Sul iniciado na década de 1990 e encerrado em meados da década seguinte, tinha por objetivo a realização do mapeamento sistemático na escala 1:25.000 de toda a fronteira da Região Sul do país. Esse Projeto, embora não finalizado em sua totalidade, proporcionou o recobrimento aerofotogramétrico de toda a Fronteira Sul do Brasil e a produção das primeiras cartas na escala 1:25.000 de quase a totalidade da região oeste do Paraná, bem como do Estado de Santa Catarina e algumas cartas do noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Além disso, possibilitou a realização do mapeamento topográfico, nessa escala, de todos os Campos de Instrução do Exército abrangidos pelo recobrimento do voo aerofotogramétrico executado.
O Projeto Estabelecimentos de Ensino, por sua vez, teve como meta o mapeamento na escala 1:50.000 da área que compreendia parte do sul do Estado do Paraná e norte do Estado de Santa Catarina. O objetivo de desse projeto era a produção de cartas topográficas atualizadas para serem empregadas em atividades de Jogos de Guerra, a fim de manter adestramento do Estado Maior do Exército Brasileiro em operações militares. Sua execução, que ocorreu durante a década de 1990 até meados de 2000, permitiu a produção da totalidade das cartas topográficas previstas no seu escopo e permitiu, devido as características montanhosas do terreno, que a 1ª DL aprimora-se a técnica de restituição fotogramétrica.
Adicionalmente, o estabelecimento de vários instrumentos de parceria firmados entre o Exército Brasileiro e o Estado do Paraná, permitiram a complementação da realização do mapeamento topográfico de todo o território paranaense.
Com a Companhia Paranaense de Eletricidade - COPEL foram estabelecidos ao todo cinco Convênios abrangendo o período de 1987 a 2008, que previam não só o mapeamento na escala 1:50.000, mas também, pela primeira vez na história do Serviço Geográfico, a entrega de uma grande base cartográfica em meio digital abrangendo a totalidade daquele Estado para uso em Sistemas de Informações Geográficas (SIG).
O Convênio com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Paraná, contemplando uma extensão menor de território do Estado, executada no período de 1999 a 2003, por sua vez, permitiu o primeiro mapeamento na escala 1:25.000 toda a área que abrange desde a cidade de Curitiba e Região Metropolitana até o litoral. Esse convênio em particular, por envolver a aquisição e repasse de Sistemas de Fotogrametria Digital modernos, impulsionou a evolução da fotogrametria da 1ª DL ajudando de forma significativa na modernização dos meios de produção.
Em 1999, uma Comissão da 1ª DL constituída de Oficiais Engenheiros Cartógrafos e Sargentos Topógrafos realizou uma visita técnica na empresa LaserScan, na cidade de Cambridge, com o intuito de conhecer e avaliar uma nova geração de software orientado a objetos de sistemas abertos denominado Gothic, o qual foi posteriormente adquirido para emprego na linha de produção cartográfica.
Como decorrência da decisão de emprego desse sistema, foi criado no ano de 2000, de forma pioneira pela 1ª DL, o Grupo de Desenvolvimento, encarregado pela criação de ferramentas computacionais para a produção de dados geoespaciais vetoriais em ambiente de Banco de Dados Geográficos Orientado a Objetos.
O resultado do trabalho desses pioneiros, trouxe avanços revolucionários que permitiram realizar pela primeira vez na história do Serviço Geográfico a automatização de importantes etapas e processos da produção cartográfica em ambiente digital, mais especificamente nas fases de edição cartográfica e preparo de dados geoespaciais vetoriais para SIG, proporcionando redução no tempo de produção e ganho significativo qualidade final da geoinformação produzida.
O sucesso dessa iniciativa fez com que a DSG incentivasse nas demais Divisões de Levantamento células de desenvolvimento, tendo como condicionante a existência de militares vocacionados e possíveis necessidades de desenvolvimento de sistemas destinados a aprimorar a produção de dados geoespaciais.
Durante a condução dos trabalhos que compreendem o período dos primeiros instrumentos de parceria com o Estado do Paraná e o desenvolvimento de soluções voltadas para automação de fases de produção cartográfica, a 1ª DL viveu o maior e mais rápido avanço tecnológico já visto ao longo de sua história. Em poucos anos passou-se da fotogrametria analógica para a fotogrametria digital, do artesanal desenho cartográfico em base fotoplástica (scribe-coat) à representação vetorial em meio digital das feições do terreno empregando tecnologia de banco de dados geográficos orientado a objetos, da triangulação e implantação de vértices geodésicos à determinação de coordenadas de pontos no terreno empregando-se rastreadores de satélites de alta precisão.
Esse período também foi marcado pela realização de diversos outros instrumentos de parceria firmados entre o Exército Brasileiro, por intermédio da DSG, tendo como executante a 1ª DL, que ajudaram a consolidar as capacidades técnicas adquiridas durante esse processo de transformação. Dentre esses destacam-se as parcerias firmadas com o Estado do Rio Grande do Sul e o Município de Porto Alegre.
Com o Estado do Rio Grande do Sul foi firmado o Convênio com a Secretaria de Coordenação e Planejamento do Rio Grande do Sul, por intermédio do Fundo Pró-Guaíba, executado no período de 1999 a 2001. Nessa iniciativa foram convertidas para o formato digital (matricial e vetorial) todas as cartas topográficas na escala 1:50.000, produzidas durante o Plano de Dinamização da Cartografia, que abrangem a bacia do Rio Guaíba.
Já com o Município de Porto Alegre foi firmada duas parcerias executadas no período de 2000 a 2006, no qual foram convertidos para o formato digital todas as plantas cadastrais na escala 1:1.000 daquela cidade, bem como foram ministradas capacitações de técnicos, implantada rede geodésica e realizados estudos de atualização de base cadastral por meio de emprego de imagens de satélite.
A criação em 2008 do Banco de Dados Geográficos do Exército (BDGEx), desenvolvido pela DSG e nó do Exército Brasileiro na Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE), possibilitou a 1ª DL ampliar a oferta produtos cartográficos em formato digital. Tal sistema, que teve início na cédula de desenvolvimento do então Centro de Imagens e Informações Geográficas, contribuiu para a popularização do uso da geoinformação da ASC da 1ª DL, permitindo maior agilidade no suprimento desse tipo de informação aos usuários militares e civis.
De 2008 a 2010 a 1ª DL se envolveu de forma coadjuvante em praticamente todas as iniciativas da DSG realizadas por meio de Acordos de Cooperação com instituições federais civis, dentre os quais se destacam as a cooperações com o Ministério do Transporte, Governo do Estado do Amazonas e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, referente a execução de demarcação de diversas unidades de Conservação Federais, e com o Ministério do Meio Ambiente, referente a elaboração de base cartográfica digital contínua da Amazônia Legal na escala 1:100.000.
Em 2010 até 2018, a 1ª DL participou ativamente do Subprojeto Cartografia Terrestre, sob a responsabilidade de execução da Diretoria de Serviço Geográfico (DSG), com apoio da Força Aérea Brasileira (FAB). Esse trabalho de dimensão estratégica integrava o Projeto Cartografia da Amazônia e foi coordenado pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM). Nesse Projeto a 1ª DL atuou na digitalização, validação e edição de cerca de 39% das cartas 1:50.000 produzidas, as quais foram geradas a partir de dados de imagens de Radar de Abertura Sintética (SAR) interferométricos. Tal iniciativa permitiu comprovar a capacidade técnica e laboral da 1ª DL para apoiar grandes projetos de mapeamento conduzidos pelo Serviço Geográfico.
Em duas oportunidades, em 2012 e 2015, a 1ª DL participou em apoio direto ao esforço empreendido pela DSG para realizar os trabalhos de campo do Projeto Bahia, oriunda de Convênio firmado entre o Exército Brasileiro e o Estado da Bahia, e executado pela 3ª Divisão de Levantamento. Nesse trabalho teve a oportunidade de contribuir não só com as atividades de campo da 3ª DL, mas também em atividades de gabinete validando e editando cartas topográficas. Essa atividade em particular permitiu confirmar a efetiva capacidade dos militares da 1ª DL em realizar trabalhos conjuntos com as demais Divisões de Levantamento da DSG e atuar em projeto de mapeamento de diferentes Regiões do país.
Além disso vale ressaltar também a participação da 1ª DL nos grandes eventos esportivos que foram acolhidos no Brasil. Na Copa das Confederações de 2013, a atuação da 1ª DL se deu por intermédio da geração de cartas especiais 1:25.000 da cidade de Belo Horizonte, bem como por meio da produção de SIG 2D e 3D, e participação como Célula de Geoinformação no Centro de Coordenação e Defesa de Área (CCDA) na capital do Estado de Minas Gerais.
Na Copa do Mundo de 2014, a 1ª DL também participou do CCDA em Porto Alegre e Curitiba fornecendo em cada uma dessas capitais uma Célula de Geoinformação, além de ter gerado diversos produtos das sedes e subsedes onde se realizou tal evento, incluindo SIG 2D e SIG 3D, cartas especiais 1:25.000, 1:10.000 e 1:1.000, além de cartas ortoimagem 1:10.000.
Em 2015 a 1ª DL começou a ministrar as Capacitações de Geoinformação para Corpo de Tropa, com o intuito de capacitar oficiais e praças na utilização da Geoinformação Digital utilizando software livre, contribuindo assim para o aperfeiçoamento dos processos de planejamento, acompanhamento e execução de operações militares.
Os avanços tecnológicos que vivenciou e as importantes capacidades técnicas adquiridas pela 1ª DL durante o período em que atuou, de 1932 até o final de 2016, permitiram que ela tivesse um papel de destaque na comunidade cartográfica brasileira, obtido por meio das parcerias e iteração com instituições civis, bem como grande sucesso nos empreendimentos em que se envolveu.
O trabalho realizado pela 1ª DL deixou como herança, materializada na forma de cartas topográficas digitais, fotografias aéreas analógicas, imagens de satélites, ortoimagens e dados geoespaciais vetoriais, um grande acervo de geoinformação da Região Sul do Brasil. Todo o material cartográfico digital, produzido conforme normas e padrões estabelecidos e adotados pela DSG na época em que foi gerado, se encontra hoje disponível no BDGEx, enquanto o material analógico se encontra catalogado e arquivado nas instalações do 1º CGEO. O grande volume de geoinformação produzida, conhecimentos internalizados e aprimoramentos de metodologia de trabalho, que permitiram atingir grande grau de eficácia na produção cartográfica no âmbito do Serviço Geográfico, contribuíram para formar a imagem deixada pela memorável 1ª DL.
1º Centro de Geoinformação
Em 26 de dezembro de 2016, por intermédio da Portaria no 1.715, do Comandante do Exército, do mesmo ano, a 1ª DL passou a denominar-se 1º Centro de Geoinformação (1º CGEO), atual denominação das OM históricas que a precederam. Essa mudança ocorreu devido a necessidade de adequações na estrutura e nos processos internos da DSG decorrentes da adoção do Manual de Campanha de Geoinformação, publicado pelo Estado-Maior do Exército em 2014.
Uma das primeiras missões executada das pelo 1º CGEO, iniciada ainda na época da 1ª DL, foi o Mapeamento da região do vazio cartográfico 1:50.000 da sua ASC no Estado de Santa Catarina, realizado em 2016 a 2017, onde foram produzidas 168 cartas na escala 1:25.000, as quais foram generalizadas para 42 cartas 1:50.000. Com esse trabalho foi concluído o mapeamento na escala 1:50.000 de toda a ASC do 1º CGEO.
Também em 2016, o 1º CGEO apoiou o 4º CGEO na produção de cartas topográficas 1:25.000 e 1:50.000 do Estado do Amapá, geradas a partir de dados de imagens SAR interferométricos, durante a realização do Convênio firmado entre o Exército Brasileiro e a Secretaria de Meio ambiente daquele ente da federação.
Nas Olimpíadas de 2016, a 1ª DL participou ativamente na integração das ortoimagens e Modelos Digitais de Elevação, gerados a partir do voo aerofotogramétrico realizado pela FAB, e de dados de edificações existentes, provenientes de plantas cadastrais do Instituto Pereira Passos. O resultado desse trabalho, que abrangeu a totalidade da cidade do Rio de Janeiro, permitiu produzir o modelo tridimensional urbano empregado em SIG 3D, durante a realização daquele importante evento esportivo.
De 2016 a 2018 o 1º CGEO produziu as primeiras cartas topográficas por meio de processos aerofotogramétricos baseado em pares estereoscópicos oriundos de imagens de satélite de alta resolução. Nesse trabalho foram mapeados na escala 1:25.000 todos os principais Campos de Instrução do Exército existentes na ASC do 1º CGEO (Campo de Instrução Barão de São Borja, Campo de Instrução de Rincão, Campo de Instrução de Butiá, Campo de Instrução de Marechal Hermes, Campo de Instrução de Santa Maria). Todas as cartas 1:25.000 produzidas nessa atividade também sofreram processo de generalização cartográfica para gerar cartas topográficas na escala 1:50.000. Para essas áreas foram gerados ainda, como geoinformação complementar na escala 1:25.000, na forma de ortoimagens e modelos digitais de superfície (MDS).
De 2018 a 2021 foi realizado o Convênio de Mapeamento do Estado do Rio Grande do Sul, projeto com a finalidade de executar o mapeamento na escala 1:25.000 da Região Funcional 1 do RS, que abrange a área metropolitana de Porto Alegre e arredores. O 1º CGEO apoiou a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão do Rio Grande do Sul na especificação e no controle de qualidade do voo fotogramétrico, modelo digital de superfície, modelo digital de terreno, feições vetoriais 3D de hidrografia, insumos estes contratados pelo Governo do RS, onde o 1º CGEO realizou a medição de mais de 3000 pontos de controle de alta precisão para garantir que a qualidade posicional do produto atendesse as necessidades do Governo do Rio Grande do Sul e do Exército Brasileiro. Além do controle de qualidade o 1º CGEO realizou a digitalização, reambulação, validação e edição dos produtos previstos no Convênio, sendo o primeiro projeto da Diretoria de Serviço Geográfico a ser entregue na especificação técnica EDGV 3.0.
Durante a pandemia do COVID-19, em 2020, o 1º CGEO apoiou ativamente o Comando Militar do Sul (CMS), fornecendo geoinformações temáticas por meio do Painel de Acompanhamento do Avanço da COVID-19 no Brasil. Esse apoio possibilitou a espacialização atualizada dos dados oficiais do Governo Federal, fornecidos pelo Ministério da Saúde, a fim de manter aquele Grande Comando informado quanto a disseminação do vírus SARS-CoV-2.
Também em 2020, o 1º CGEO atuou no Projeto Piloto de uma base de transportes para fins de roteamento do Sistema Integrado de Gestão Logística (SIGELOG), o qual tem por finalidade a execução e o controle das funções logísticas nos diversos níveis e escalões do Exército Brasileiro.
Em 2019, após a entrada do Ministério da Defesa no Programa Multi-national Geospatial Co-production Program - MGCP, o 1º CGEO foi designado pela DSG para produzir em caráter de benchmark a primeira célula de geoinformação, com dimensão geográfica de 1º x 1º, no âmbito dessa iniciativa multinacional da Agência Nacional de Informação Geoespacial (NGA) norte americana. A produção dessa primeira célula pelo Brasil foi finalizada e aprovada pelo MGCP em 2021, o que atestou a capacitação técnica dos integrantes desse Centro para a produção de geoinformação nos padrões internacionais. Esse fato é considerado como marco importante na história do Serviço Geográfico do Exército Brasileiro, pois colocou a DSG no mesmo patamar de referência que posiciona os principais produtores de dados geoespaciais do mundo, comprovando dessa forma o alto nível de capacitação de seu quadro técnico, e em particular do 1º CGEO.
Com a entrada em 2020 do Ministério da Defesa no Programa TanDEM-X High Resolution Elevation Data Exchange – TREx, uma iniciativa conjunta da NGA e o Centro de Geoinformação do Exército Alemão para produzir um Modelo de Elevação Digital global e homogêneo, a DSG selecionou 1º CGEO para obter a certificação e credenciamento técnico e ser o Centro de Produção Local responsável pela geração das geoinformações altimétricas dessa parceria no Brasil. Essa certificação e credenciamento técnico foi obtido em 2022 com a aprovação das células produzidas pelo 1º CGEO, as quais foram avaliadas pela Alemanha.
Outra iniciativa internacional que tem mais recentemente a participação do Ministério da Defesa, por intermédio da DSG, e vem sendo executado pelo 1º CGEO é o Programa Multinational Co-production Urban Vector Data – MUVD, iniciado em 2021. Essa iniciativa, na qual o Brasil figura como pioneiro com outros países-membros da parceria, tem por finalidade a produção de dados vetoriais de ambientes urbanos destinados para emprego dual.
O 1º CGEO também tem sido um importante ator na migração da linha de produção de geoinformação da DSG para software livre, sendo pioneiro na utilização do software QGIS para as fases de digitalização, reambulação, validação e edição. Além disso, vem contribuindo diretamente com o desenvolvimento de metodologias, ferramentas e modelagens de banco de dados geográficos e utilização de software livre na produção de geoinformação.
Atualmente o 1º CGEO vem produzindo geoinformações não só de sua ASC, mas também de outras Regiões do Brasil em cumprimento as metas do Plano de Desenvolvimento da Doutrina Militar Terrestre (PDDMT), do Comando de Operações Terrestres. Adicionalmente a produção de geoinformação, tem mantido em operação um núcleo de militares dedicados ao desenvolvimento do DSGTools, bem como, vem realizando pesquisas e trabalhos na área de aquisição de feições do terreno por meio do emprego de Inteligência Artificial. Vem ainda, liderando grupos de trabalho no âmbito da DSG destinados a elaboração de Normas e Metodologias de Trabalho voltadas para a produção de carta ortoimagem e outros produtos afins.
Desde o ano 2016 até os dias atuais, têm sido muitos os desafios enfrentados e vivenciados pelo 1º CGEO. Esses desafios, apresentados na forma de transformações nas áreas de geotecnologias e doutrinas militares, aliados ao ambiente proporcionado pelo século da informação, têm sido tratados como fatores motivadores para a melhoria da execução das missões que vem sendo executadas. O resultado desse esforço silente tem sido o aprimoramento constante das geoinformações disponibilizadas a sociedade brasileira e suas Força Armadas, e em particular ao Exército Brasileiro, com o intuito único de contribuir para desenvolvimento nacional e realizar a sua nobre missão de mapear o Brasil.